Apaixonado por tecnologia, o paulistano Jum Nakao chegou a cursar engenharia eletrônica, mas acabou optando por artes plásticas na Faap, faculdade da qual saiu em 1987 sem o diploma, por não ter feito as aulas de licenciatura. Era início dos anos 80 e a cultura underground fervia. Jum freqüentava o mítico Madame Satã, reduto da modernidade da época, e observava como o vestuário tinha a ver com as atitudes. Assim, entrou na moda pela possibilidade de transformação e libertação.
A formação em moda veio em cursos no CIT, Centro Industrial Têxtil, onde aprendeu com professores como Marie Ruckie, Vera Lígia e Alba Noschese.
Em 1987, quando ainda não havia um circuito de desfiles no Brasil, juntamente com Walter Rodrigues e Conrado Segreto, integrou o projeto pioneiro Cooperativa de Moda, em que estilistas de grandes confecções mostravam trabalhos próprios.
Mas o reconhecimento público só veio quase dez anos depois, em 1996, no Phytoervas Fashion. Jum trabalhava na Carmin e desligou-se da grife especialmente para se dedicar ao evento. O desfile, inspirado em Bibelô, personagem do cartunista Angeli, foi uma grande vitrine. Logo em seguida o estilista foi convidado para entrar na Zoomp, onde passou seis anos como gerente de criação. Paralelamente a esse trabalho, ainda criou coleções para mais duas edições do Phytoervas e, de 1998 e 2000, participou da Semana de Moda Casa dos Criadores.
Entre 2002 e 2003, fez parte do Hotel Lycra, como sócio-curador, convidado pela Dupont. E hoje, junto com a mulher Lelê, Jum concentra-se em sua própria marca, inscrita no Calendário Oficial da Moda - São Paulo Fashion Week desde 2002.
Fortemente influenciado pela tecnologia, pela estética japonesa e pelos filmes de animação, seus desfiles já se tornaram um acontecimento cercado de grande expectativa. Performático, o estilista gosta de causar impacto, mas sempre com grande encantamento da platéia.
No início de 2004, por exemplo, no lançamento da temporada outono-inverno, criou e recriou looks em plena passarela, sobrepondo as roupas nos modelos. Foi com a coleção de verão de 2005 que veio o turning point, com direito a livro e DVD ( A Costura do Invisível) debates e worshops (o último foi na França). Mais do que isso, a ousadia deu ao designer a oportunidade de materializar o clima fantástico que habita sua mente. Desfile este que rendeu comentário até de Glória Kalil, que disse não se tratar de um desfile de moda, e sim sobre moda.
Jum Nakao criou roupas de papel, inspiradas no século 19 rasgadas ao fim da apresentação. Corta a cena. Já se passaram cinco anos, e ainda sinto a mesma emoção de quando eu assisti pela primeira vez.
Sei que não é um tema novo, que para muitos já é uma notícia de ontem, mas tantos ainda não sabem da genialidade de tão grandioso estilista que conseguiu em uma passarela transformar moda em arte, em cultura e em espetáculo, proporcionando aos olhos de quem vê algo ímpar e inesquecível.
Abaixo na íntegra o tão falado desfile.
Uma semana cheia de glamour a todos!